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A estiagem que interditou a hidrovia Tietê-Paraná no ano passado não desanimou sua mais tradicional e maior usuária a investir no transporte fluvial. Apesar dos transtornos que ainda enfrenta para o escoamento de seus produtos no Centro-Sul, a Caramuru Alimentos já começou a investir pesado em uma alternativa de transporte pelo Norte que mais uma vez privilegia os rios.

César Borges de Sousa, vice-presidente da Caramuru, explica que o projeto em curso, que deverá absorver investimentos de R$ 45 milhões, prevê o escoamento de toda a produção de proteína concentrada de soja da fábrica da empresa em Sorriso, Mato Grosso, pelo Norte. A unidade tem capacidade para produzir entre 180 mil e 200 mil toneladas dessa proteína de alto valor agregado por ano, e toda a oferta disponível atualmente é exportada pelo porto de Santos, no litoral paulista.

Conforme Borges, o projeto foi aprovado pelo conselho da companhia em novembro e está em fase de implantação. Envolve a construção de uma unidade de transbordo em Itaituba, no Pará, e outra no porto de Santana, no Amapá, e deverá estar concluído no início de 2016. "Trata-se do principal investimento da Caramuru em 2015. É o nosso primeiro passo no Norte, e a operação poderá ser ampliada no futuro. A economia de frete que teremos em relação ao escoamento por Santos é de 25% a 30%", afirmou.

Além desse projeto, a Caramuru tem outros planos em execução que tendem a elevar seus investimentos totais ao patamar de R$ 100 milhões neste ano, apesar das incertezas que cercam a economia brasileira e internacional. Dois deles também são em Sorriso: já está em fase final a ampliação da capacidade de processamento de soja da unidade, de mil para 1,2 mil toneladas por dia (R$ 3,5 milhões) e, além disso, está sendo erguida uma planta de cogeração de energia no complexo, orçada em cerca de R$ 23 milhões.

Já está próxima também a conclusão da instalação de uma unidade de esmagamento de soja em Ipameri, Goiás, onde a companhia tem uma planta de biodiesel - mercado cuja demanda cresceu depois do aumento da mistura obrigatória do produto no diesel, de 5% para 7%, no fim do ano passado. Até 2014, os aportes na nova fábrica de Ipameri, que terá capacidade para 1,5 mil toneladas por dia, foram de R$ 76 milhões, e outros R$ 8 milhões deverão ser gastos em 2015. A unidade já funciona, em fase de testes.

Com os investimentos em curso - e apesar da seca na Tietê-Paraná, por onde a Caramuru conseguiu escoar apenas 128 mil toneladas de grãos em 2014, ante quase 900 mil em 2013 -, a companhia registrou resultados em geral melhores no ano passado. De acordo com balanço publicado no "Diário Oficial de Goiás", o lucro líquido chegou a R$ 26,3 milhões, 66% mais que em 2013, e a receita se manteve praticamente estável em R$ 3 bilhões - a previsão é que o valor chegue a R$ 3,5 bilhões em 2015.

Borges realça que a manutenção do patamar da receita foi garantida apesar da queda das exportações, de US$ 765 milhões para US$ 623 milhões na comparação. No total, a Caramuru movimentou 2,3 milhões de toneladas de grãos em 2014. Os grãos não transgênicos representaram 45% do total, segundo o executivo. Os empréstimos e financiamentos da empresa, que em 2013 somavam R$ 1,7 bilhão, recuaram para R$ 1,4 bilhão.

Fonte: Valor Econômico/Fernando Lopes | De São Paulo